quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Câncer congelado


Uma droga experimental capaz de congelar o crescimento de tumores obteve resultados promissores num grupo de 116 pacientes com câncer nos rins em estágio terminal. Batizado de Avastin, o remédio bloqueia uma proteína que estimula a formação de vasos em torno dos tumores renais e cria uma irrigação sanguínea particular para o câncer. Por meio dessa rede, ele se abastece de oxigênio e nutrientes — e aumenta de tamanho. Sem ela, graças ao medicamento, a moléstia parou de avançar e ficou "congelada" por mais de cinco meses. "Com a vantagem de que não surgiram efeitos colaterais fortes", comemora George Sledge Jr., professor de oncologia do Centro de Câncer da Universidade de Indiana, um dos responsáveis pela pesquisa. O câncer renal afeta quase 200 mil pessoas no mundo a cada ano e mata 90 mil delas.

Há exatos quatro anos, a estratégia de bloquear vasos que alimentam tumores foi apontada como uma chave para a cura do câncer. O pesquisador Judah Folkman, do Hospital da Criança de Boston, apresentou resultados fantásticos em experiências com ratos. Os roedores recebiam duas substâncias, a angiostatina e a endostatina, e se viam livres do câncer de forma surpreendente. Primeiro, o tumor parava de crescer. Depois, murchava. Mais de 60 drogas experimentais com base nessa descoberta estão sendo testadas, mas as primeiras tentativas foram decepcionantes. A angiostatina e a endostatina não repetiram nos homens a mágica produzida nos ratos, provavelmente porque há mais proteínas envolvidas na criação dos vasos sanguíneos humanos.

O Avastin é a primeira vitória. A droga foi reprovada em experimentos com outros tipos de câncer, como o de pulmão. Ainda está sendo testada em pacientes com tumores de mama e cólon. Os resultados sairão nos próximos meses. Se forem positivos, como no combate ao câncer renal, a droga poderá ser aprovada em um ano — e será a primeira dessa classe de medicamentos a chegar ao mercado. Os médicos não esperam que o remédio erradique os focos da moléstia. Apostam, sim, numa nova abordagem de tratamento. O Avastin serviria, por exemplo, para deter o crescimento do câncer no intervalo entre duas sessões de quimioterapia. Isso ampliaria a sobrevida dos pacientes e ajudaria a transformar o câncer numa doença com a qual se convive por um longo período da vida. O cientista John Mendelsohn, presidente do M.D. Anderson Cancer Center, em Houston, lembra que muitos pacientes descobrem focos de doença antes de exibir sintomas. "Se conseguirmos atacar esses tumores e não permitir que cresçam, a pessoa nunca desenvolverá a moléstia", diz.

Fonte: Revista Época

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